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domingo, 17 de fevereiro de 2008

desatam-se pós (do teu café)

Seu café não se perdeu não, está é demais quente
Juro, seu café espuma, a língua que queima sacode
delícia de espuma na boca, no fogo no bigode
Hoje só sobrou uma colher de pó de café.

Se se põe mais água fervente
O café com a espuma, na xícara
Torna-a cheia, xícara quente
Xícara branca, pó de café: pós de café.

O metabolismo se acelera: vem, vem!
Vem, vem, vem: acelero, acelero, ainda te espero.
Com mais calma, admito, mas é café que quero
Te quero numa xícara branquinha, pequena e barata.

O pó de café, pós de louças em migalhas
Colho e recolho o retalho da xícara e os pós, e os pós
desconsertáveis, desconcertados, és atroz
És Philip Glass: pananã, pananã, desatam-se nós, desatam-se nós.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Ruminação

Rasgos de tempo distraídos na chuva,
delícias de amor, sem valor, agora são minhas.

Rasgos de tempo estocados no criado-mudo
elixir que acorda e não permite dormir.

Rasgos de tempo pregados na parede da avó
cinta grossa que encanta e faz sangrar.

Rasgos de tempo caminham sob meu paletó
macacos embalsamados em rios violentos.

Rasgos de tempo atolam os dias,
num lamaçal suculento e enojador.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

Do gás

Até gosto da chuva de sol
Que não molha, que queima
A grama até sente
- sente-se mais verde
um verde-queimado, verde-música -
Porque o vento sabe é cantar
A música só nasce do que queima
Não fosse assim, a chuva de sol não seria o que é.


Até gosto da grama de pasto
porque tem bosta
Mas quando a chuva de sol a queima
Ela vira música: a música nasce do que queima
É carbonizando que se faz tudo isso.

Não quero extintor:
medidas preventivas tiram o frescor da grama que,
queimada de orvalho,
sai pra carbonizar
Agonizar, fétida
E gosta
E goza: delícia!