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domingo, 5 de julho de 2009

Tapa na cara

Guarda de todas as casas,
de imponderável gentileza
não liga pra um "com licença",
– surda como uma mesa –
– e talvez da mesma raça –

parada como uma lesma
– de altivez melancólica –
vossas ordens não desacata,
mas trata com indulgência
não reage, não ataca.

A questão poderia ser
“Trouxeste a chave?”.
Mas: reta, explicita,
não tem humor para
metalinguagens.

Dura como pedra,
de material mais suave,
trabalhada. Triste é sempre
encontrá-la fechada.
Uma dor intransponível.

Noturno IV

Os olhos pesam oceanos,
súbito entumecimento enregela
pensamentos, aos poucos
pequenas lascas de sonhos.
Cabelos negros, pele amarrota,
esfiapados vestidos, voz surda
atordoa: Está na hora.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Pathetique

O céu pela manhã me comove
sinto como que um gosto de claridade
as luzes ainda acesas nada iluminam
os postes ridículos, obscenos

a rua solitária devaneia
lembrando os momentos de felicidade
os carros passeiam na minha cabeça
e movimentam essa opacidade

as linhas fingem que correm
as rodas que estão paradas
o dia acelera melancólico
o sol me incomoda,

o calor e o sol acabam
com o dia o sono e o ventilador
me chamam, começa a noite.
só pra mim, fofoca a vizinha.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Confissões




Há tempos eu sabia contar
palavras, amores, vida
Contava as peças de montar
que faltam a um suicida.

Há tempos eu sabia viver
O relógio não me prendia
Hoje já nem  posso ver
A corda que antes estendia

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Meu pau cruel

Essa é mais uma história de confissão, que, não podendo ser feita de forma poética, porque sexual, profana, difama as palavras porque escrita por alguém sádica. A prosa é sexual, trepamos em prosa, cada aparente verso livre falado na transa é apenas uma simples oração coordenada, objetiva e impessoal, da língua portuguesa que é uma língua animal, não nos lembra o bom sexo humano que se diz amoroso, mas os ataques de gozo do povo animal que trepa porque nasceu no planeta Terra e daqui nada se leva, mas tudo se vive, que bom!, é o que eu sempre digo: aterra, meu amor, aterra, porque depois sabe-se lá quando vamos gozar.
Vim confessar umas coisas que nenhum analista poderia ouvir, porque iria dizer que tenho tesão pelo meu pai, pela minha mãe (que às vezes é viril) e um tesão narcísico por mim mesma, já que só me amo quando longe da multidão, porque sou muito boa sozinha, eles não sabem o que perdem... Não posso contar ao analista que tenho o sonho de trepar com alguém que chora porque sou maldosa com esse alguém, enquanto ele chora e uiva de dor no coração pelos meus maus tratos, eu gozo, eu sinto um prazer inenarrável, quer dizer, dá pra narrar: é um gozo limpo. Limpo de qualquer obrigação social de querer bem esse alguém que me serve na cama, obrigação de querer bem esse que eu não posso dizer que me serve, porque não é meu escravo, isso é socialmente condenável, tenho de dizer que é meu parceiro. É um gozo limpo da obrigação de simplesmente ter que transar assim ou (frango) assado, de poder transar espirrando, lendo García Márquez e se deliciando com a sensualidade do nome de Amaranta, sem lembrar que o nome dela lembra “amar”, que é coisa de gente ignorante que acha que esse é o diferencial humano.
Não é o diferencial humano. O diferencial humano é gozar. Idiota quem diz que é gozar e ficar de amorzinho com o parceiro, ou melhor, o servo. Isso aí é coisa pós-marxista, desse povo que acredita na luta de classes objetiva e na produção como motor do mundo, enquanto só pôde estudar essas idiossincrasias e possibilidades sociais porque nasceu rico e na classe que domina a outra que ele finge que quer que revolucione. Pára, isso é coisa de gente que, depois de Freud, achou que entendia porque não gostava de transar e passou a se ocupar de causas sociais pra dizer que transcende. Freud é boboca: não tenho tesão pelo meu pai, não quero roubar o lugar da minha mãe, e não tenho tesão não porque ele é meu pai, mas porque ele não se parece com o Al Pacino, ponto. Senão, dá-lhe papai!
Voltando à confissão principal: sonho em trepar com alguém que chora por minhas maldades enquanto o como com muita maldade. “Você está bruta, isso dói”. It´s your business, baby, você não inventou o amor? Agora agüenta. E sozinho, porque eu não tenho amor. Tenho tesão, é isso que move o mundo. Materialista histórico? Não, hei de fazer o povo entender que a questão é a libido histórica, aquilo que faz com que eu olhe no espelho e sorria antes de sair, achando que eu treparia comigo se me visse andando na rua com aquela roupa e aqueles cabelos, a mesma libido que me faz ver televisão e odiar o Faustão, a mesma libido que me faz trepar com alguém que fala “menas”, e assim por diante... A mesma libido também que se tem ao ver alguém que tem o dom da palavra, cuja inteligência e intelectualidade são afrodisíacas... Libido que me faz cozinhar pra mim mesma e, melhor ainda, pros outros, porque a pessoa que vai comer minha comida tem tesão por mim, enquanto mastiga com prazer, ela não quer a comida, ela ME quer, mas ainda não sabe totalmente disso... E quando eu como minha comida, como com prazer porque tudo é narcísico (odeio Freud, sério), mas como melhor a do outro porque é ele quem eu desejo: o desejo pelo outro nos faz sorrir a cada dia, nos faz enfrentar a rotina, porque sabemos que, de tempos em tempos, treparemos com alguém, encontraremos um outro que nos faz gozar e, às vezes, sofre pela gente, que delícia...
Confesso que há certas caras e bocas do cara que sofre por mim que, de tanta raiva por ele ser tonto, me dão tesão. Tenho raiva por ele ser tonto, submisso, burro e sem orgulho próprio, mas isso me dá tesão... Engraçado... Aquela cara de felicidade que nosso servo faz quando, depois de acabarmos com ele com palavras cruéis, o beijamos duas ou três vezes nas bochechas, na testa e no nariz, e pronto: a cara de felicidade e de prazer dele é tamanha, que parece uma criança tonta que apanhou um monte mas ganhou a Barbie Noiva. Isso significa que sou pedófila – outra confissão. Tenho raiva das crianças, do choro delas e de quando escorre o nariz delas, mas isso dá tesão...
Meu servo há sempre de ser alguém assim: servil e idiota, apaixonado. Porque ele inventou o amor, a sociedade em que ele nasceu inventa esses passa-tempos, eu não: nasci nela, mas cresci aceitando que a maldade dá prazer. Pergunte a uma atriz: prefere uma vilã ou a mocinha? Prefiro fazer a vilã, é desafiador. Claro que é, é a oportunidade que ela tem de camuflar o prazer de acabar com o outro.
Cresci libidinista histórica, sádicos de todo o mundo, uni-vos: o mundo todo é sádico, a unanimidade nem sempre é burra, desde que ciente. Quem quiser trocar confissões que para o mundo são feias, me escreva:
meupaucruel@hotmail.com.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Pra não dizer que não falei de flores

a uma tulipa verde sapo

Eu sapo que sou queria uma tulipa
assim como cantar um rock'n'roll
ou soltar pipa. Queria ser criança
- aí não precisava da tulipa -
queria inventar uma dança
desconhecida na Suiça.

Eu sapo que sou não posso ter uma tulipa,
posso parar ao seu lado, dar uma cantada
e dar linha na pipa. Eu que não posso
ter uma tulipa deixei uma tulipa
me adotar

Eu que não conheço uma tulipa senti
seu cheiro e não consigo parar. Eu
que nunca vi uma tulipa vivo a encontrar
seu cheiro (hircoso?)

Hircoso. (ô).[Do lat. hircosu] Adj. Diz-se de certas plantas que exalam cheiro desagradável, semelhante ao bodum.

em todo lugar, eu que cresci
uma tulipa não consigo me enganar de que
a tulipa, meu sapo, canta...

fedendo a papel.