Pesquisar este blog

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

O Homem que explodiu o Congresso. - Prólogo

Prólogo.

    As vezes eu quero dizer certas coisas, mas não digo. Vão pensar que eu sou louco, isso eu penso. Ela diz que não, mas ela mente. Há amor de mais e medo de mais para me mostrar a verdade. Há amor de menos para me mostrar o que eu quero ver. E eu quero tudo e nada. Isso é o que eu penso.
   
   Queria trabalhar como gente decente, mas me falta a coragem para vencer na vida. Olho para minha cama e fico doente. Sete dias é pouco para hibernar nesta vida. Hiberno sete anos, quiçá servirão-me sete décadas de sonho. Morreria se fosse crente, isso eu penso com certeza. Talvez exista um lugar onde só se possa ser, sem se explicar. Sem trabalhar. Só orar e comer e dormir. Sem sexo. Sem consciência. Tal lugar é onde mora Jesus?
Duvido.

    Se existe céu, a entrada não é franca e com certeza os terrenos exigirão padronagem de construção. Eu conheço Jesus e ele não mora barato.  Porque se morasse barato, seus templos seriam casinhas da CDHU. Se Jesus fosse de graça, não cobrariam ingresso para rezar. Jesus está sendo vendido e vendendo há 2011 anos. Nos foi vendido com uma entrada de 30 moedas de prata, 2011 anos de juros e correções. Isso sim que é negócio. Talvez eu devesse ser pastor, mas me falta coragem.
    
    Eu queria mesmo era comer um cú. Só pra dizer que comi. Entrar em outro buraco, gozar na cara. Dar na cara. Essas coisas que homem que é homem faz. Porque sexo bom não é amor, é ódio. Sexo bom tem que ser baseado em dominação, em abuso de poder. Tem que pegar aquela mulher que você odeia e deixar molhadinha batendo o pinto na cara. Isso sim é sexo! Chupa que é de uva!
    
     Mas sexo em si é uma coisa complicada. Muita gente dizendo, contando, vendendo, muita gente sem fazer direito. Sexo vende igual Jesus. às vezes mais. Sexo se vende antes de Jesus, inclusive, ou você acredita que Maria era Virgem? Mas antes de Jesus vendiam Moisés. Venderam também Brahma e outros negos. Venderam o Olimpo. Engana-se quem acha que superaremos o capitalismo. O Capitalismo é Atemporal. O capitalismo é sexo, é Jesus, o capitalismo é a humanidade.
Eu sou o Capitalismo.
    
       Quer pagar quanto? Quem quer dinheiro? Quer vender seu produto? Seu corpo, sua uva?
    
    Eu devia mesmo era ser traficante. Cheirar fumar e meter bala. Devia traficar no morro da mangueira em época de carnaval. Altos preços em alta temporada. Capitalismo na veia. Capital na velha. Sexo, drogas, rock and roll. Não sei cantar, se soubesse, não seria artista porque sou feio. Pra ser artista tem que ser bonito ou pintudo. Ou dar pra alguém.
   
     Eu devia era ser racista. Desses de máscara branca. Para exterminar as outras cores e deixar tudo branco. Mas nada de cor de sol! Nada de moreninhos. Nada de nada que não fosse branco, bem branco. Do pálido branco da morte. Porque no final, só no final, somos todos brancos. Mas isso é pouco.
    
    Eu queria mesmo é que o mundo acabasse num apocalipse ZUMBI! Assim a gente limpava esse atentado que chamamos de nós. Assim talvez eu tivesse paz. A linda paz de quem tem suas entranhas devoradas por bocas em decomposição. Talvez assim eu fosse feliz. Sabendo que os políticos e as ex-esposas estivessem todos como eu, devorados.
    
   O que eu queria mesmo, mesmo, mesmo... era explodir o congresso em dia de votação para aumento de salário de deputado...

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

sem correspondências

Um sipó violáceo-escarlate
num laço simpático ostenta
as rugas que surgiram no plástico
e as flores que o sustentam.

- No plástico não há dor
não há quem se perca
Viadutos que o sipó aguenta
Tentados pelas flores correntes

No limbo, seu divã, o diabo
reluz, seiscentos e sessenta
mil espelhos dourados
a virtude afugentam e aprisionam

As flores serpentes carregam
o plástico destilando simpatia.
O laço do carrasco de um sábado
põe a cara da cor que refletia.

noir nº7

das pontas dos dedos
a fumaça saia qual
fonte enluarada
da mais sublime neblina

da boca escancarada
rajadas cinza desfilavam
qual trem de madrugada
sem pio nem cortesia

as almas enevoadas
essa artificialidade
que saia nenhuma advinha
advinho, eu, maravilhas

Encantamento soturno
maior que o tiro na noite.
De dia apuro, continuo
procurando o açoite

da verdade que se esconde
entre cachos dourados
pernas veladas, vista
embaraçadas, com cheiro de morte

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Blasé

Cruella Cruel persegue seus cães
sem se lembrar de vestir suas peles
apenas pela vista ocre
e pela ânsia acre
em sua garganta augusta.

domingo, 28 de agosto de 2011

Vago,


A faca escorre pelo corpo
Esverdeada pelos pecados
Passados.
A perda do braço não provoca asco
Mas desritmiza o choro
A porta se fecha
O cão se cala
E a dor falta.

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Elegia

um velho mora aqui, filho,
não adianta, ele não quer brincar
O dia todo sentado na varanda
só entra pra se entendiar

um velho mora aqui dentro
da calçada não dá para notar
como todos os velhos, resmunga,
pedindo pro tempo parar

não há motivo para tristeza
a velhice já chegou à raíz,
ela não tem medo da morte
esse vai ser um encontro feliz

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A madeira em minha pele.

Queria ser pinóquio
ou tal qual pinóquio
ser de mentira
pois de mentira
seria infinito
e nesse infinito
me perderia
até que um dia
um dia poderia
viraria um dia
verdade de mentira.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Medéia, ou a iluminação do Ocidente.


Hoje acordei iluminado
Por uma rubra luz
incandescente
Na epifania do desejo
Iludido apego
Da vida

O amanhã nascerá escarlate
Para os filhos da noite
Escura
Minha catarse é nossa
O empírico ego
Do fim.

terça-feira, 1 de março de 2011

Morcego (ou Do bolor e o seu lugar)

Sobre piano, flores, bilhete,
A poeira no chão destoa
A música aos poucos acende
Lembranças de outra pessoa

Na época em que o jardim era verde
No baile emoções sobrevoam
A dança aos poucos distende,
Os nervos nunca perdoam

Se perniciosamente me permito
Músicas, folhas, bilhetes, pessoas,
A poeira aos poucos me deixa doente
Toda comoção enjoa

Um canto, de repente, deleita
Das mágoas já não sinto gosto
Um beijo bailarino abotoa
A gola sufoca o pescoço

A alegria foge, entre dentes,
A poeira tudo enevoa
Aos poucos num gesto dormente
O morcego se lamenta e ressoa

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Deusa

A Ela eu canto, a Ela meu manto
Com Ela me encanto, acalmo meu pranto
A Ela eu danço, com Ela é manso
O andar que é firme, assim não me canso

É Mãe, é Mulher, é Mão e colher
Alimento daquele que chegou sem saber
Que mundo era esse, em que devo crer?
Na Mãe Protetora, no anjo do VER

Por Ela eu sigo
A Ela eu digo
Que amo ter vindo
Me livrar do castigo

Porque aqui é Amor
Aprendizado sem dor
Descobri que há flor
Branca e com cor

No meu coração de um ser que chegou
Humano e mais: um ser que viajou
Na infinitude do tempo, do desconhecido
Pra vir Me levar de volta Comigo.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Ser ou não


Antes do amanhecer
o sol se pôs na escuridão
tudo para esquecer
os dias que serão

Na umbra absurda
a vela desvelada
reverbera surda
sua rubra espada