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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Do orgulho animal

Lentamente, como minhoca saciada, se arrasta
contente desse caminhar mal criado
crina que se assanha e avoa
qual comercial de menina melindrada.
Contudo, ao primeiro aviso, se atordoa,
se enrola igualzinho piolho de cobra,
tímido, refaz as suas contas,
com assombro com fantasma se depara.
A segunda estocada é mais dolorosa,
cirurgicamente acerta regiões mais delicadas,
como a cabra se acabrunha de repente,
profissão de fé de gente mal humorada.
Pro próximo passo só é preciso estar presente,
retraído, o veneno, agora exala
qual sapo-boi se infla, vaidoso,
como leoa atraiçoada numa jaula.

quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Febre

Anseio por acender um cigarro
Mesmo que eu não vá gostar
Mesmo sentindo na garganta
Uma  precognição do pigarro

É que por diversas vezes
Na calada da noite me assombram
As lembranças de quem fui e serei
E a visita me provoca instâncias loucas

Como noite de Folia de Reis
Eu sento na beirada da cama
e busco uma fonte de calor
Uma fonte de fumaça e amor

Pois mesmo não gostando
E mesmo com este vermelho sangue
De noite, sempre me vem
essa vontade louca de me matar

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Carinho na língua dos outros é refresco

De tanto escutar gente enchendo o saco,
corretores de word que a língua não sentem,
decidi escrever esse epitáfio, simples,
- para desaprovação! - como toda gente.
Seje ele um texto desajeitado, capenga ou doente
concerteza esteje encomodando a sensibilidade dos escrevente.
Há quem diga que o nariz arrebitado
deixa que a poeira entre, mas se é qualificado
espirra com virilidade e espírito detergente.
Pra mim comprar essa ideia faltam tostões e vontade
os primeiros pagam o pão com mortandela
o segundo manteu a tal da liberdade.
Não desejo mal a ninguém, quero que todos estejem
disso despreocupados, mas se ir pede a preposição
melhor é dar esmola pros necessitados.
Se a boa comunicação salva nóis
acho que ansim você me intende
afinal para escrever não é preciso pós
basta papel e lápis apontado,
já diziam Linspector e Abreu:
"Se for pra fazer, que seja errado".

domingo, 23 de junho de 2013

Hibernação

A palavra se esqueceu de mim
talvez tenha se tornado fria
numa dessas viradas da vida
às esquerdas

Andei sozinho pelo branco do dia
numa solidão de pedra ao sol
nem o piar de pássaros azuis
nesse sertão

Pelo caminho reto fui distraído
das curvas e das montanhas
composições rítmicas no asfalto
retalhos

E joguei uma noite perdida
em um mundo quente pelos meus sentimentos
carmins em tinta de pós-parto
um dado.

Encontro em uma música apagada
as cores do meu universo cansado
sangrando nos umbrais do cosmos
escrevo.

sexta-feira, 21 de junho de 2013

Bois que derrubam cerca

De ferrões em brasa e instinto
malcriado a muriçoca se excita
e belisca o possante gado.
Como uma mãe que em riste
percebe o filho acossado, o boi
de um salto se expande
correndo desesperado.
Se pimenta nos olhos dos outros
é refresco, não sei, mas a bebida
deixa todos ouriçados, com espanto,
a massa homogênea estilhaça
antes boi sossegado.
Unidos por berrante
e boiadeiros bem asseados,
agora, enxame de abelhas,
açoitam e não olham pro lado.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

De perna longa

uma cenoura é sempre uma cenoura
assim como os pingos da roupa
no varal de meus sonhos
tornados pássaro e aí velhinho?

buraco negro, na parede,
que se passa, que os passáros
não andam, só os patos
que pensam e vivem sorrindo

um varal é uma vida na borda
sorriso que disfarça
um pássaro tornado cenoura
e amado pelas crianças

uma criança é sempre uma criança
assim como os pingos do varal
são sonhos da minha roupa
tornados velhos e aí passarinhos?

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Fanfarrão

Num dia desses ou numa noite dessas
Você vai encontrar uma pedra
Uma pedra no caminho
Medo não é preciso
Não esqueça, não estará sozinho

Num dia desses ou numa noite dessas
Você vai perder seu caminho
Mas basta seguir a pedra
Não se esqueça não é preciso
Pressa, gigantes são moinhos

Num dia desses ou numa noite dessas
No caminho de uma pedra se perderá
Perdido estará o que se é
Não é preciso duvidar
Não se esqueça de manter-se em pé

Num dia desses ou numa noite dessas
Você não vai encontrar nada
Nada é o fim da estrada
Não é preciso desespero
Não se esqueça o retorno é a virada.