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terça-feira, 23 de outubro de 2018

O Baile da bile



“Nossos filhos tão felizes...
Fiéis herdeiros do medo,
Eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
Dançando o baile do medo.”
DRUMOND



Eu tenho ânsias de vômito vorazes
vociferando meu corpo.
No espelho não me vejo,
não reconheço mais este magro verso...

Lá fora o mundo ri
histericamente!
Eu olho para o abismo,
a ciranda do ódio que roda
serelepe com o revólver na mão.

No caminho de Hamelin,
como ratos saudando Hitlers
com rotundos rojões-bandeiras
dançamos o baile da bile.

Eu tenho ânsias de vômito vorazes
vociferando meu corpo
quando te vejo
dançando o baile do medo.

Lá fora você ri,
meu irmão amado,
histérico na multidão!
Serelepe com o revólver na mão.

Segue o flautista armado
e eu não te reconheço mais
na escuridão de bandeiras
debandando da razão.

Eu tenho ânsias de vômito.
Eu choro na escuridão...
enquanto dançam o baile do ódio
e matam meu outro irmão!

Lá fora é uma festa
histérica imensidão
que anuncia o que me espera
a morte ou solidão.

Tenho ânsias de vômito
vociferando vorazes
vozes.
Eu as acolho no meu colo
ao te ver na multidão
serelepe com a arma sangrando
o sangue do meu outro irmão.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2015

Infernal

Hoje tenho um ímpeto
Primal e irrecusável
Interno à minha gênese
Ao meu ódio ancestral

Hoje a tua morte é pouca
e somente o castigo eterno
do demônio mais gultural
saciará o meu rancor.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

Infante

O que realmente me cativa
nas preces do amanhã
são os sonhos de menino
aquela natureza canhestra
de montanhas segurando um sol
sorridente.

A bola do tamanho da Terra
e a reinvenção do universo
em cartolina e giz de cera
aquele sorriso que se vai
e só reencontramos mais tarde
nos outros.

Cinzas e estrelas

Minha boca tem gosto de cinzas
dessas dum defunto gordo
que enchem a boca
e calam

O sol na beirada da porta
ilumina o quarto vazio
do chão o pó flutua
constelando.

segunda-feira, 11 de maio de 2015

Crônica de uma confissão gripada

As vezes eu me irrito,
me irrito e não me entendo,
É uma força brava de antipatia
que sacode a gente por dentro.
O motivo é meio misterioso
- como o da dor de dente.
O arrepio indolente, ao contrário,
atinge, por força, as extremidades.
E nada mais me põe à vontade
E tudo me coloca doente.

No fundo da alma se ouriça
a sinceridade
- essa força de gente inocente.
Porém toda pintada de maldade,
surge com um furor incongruente.

Feita arma tal habilidade
- conversão de esponja em tridente -
naturalmente explode. 
Não é diferente do saco
em que, indiferente, se sopra o ar.
E já não há mais saco pra soprar.