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quarta-feira, 19 de março de 2008

As traças

O sutiã dela era de cor chocolate
Sem, sem-graça, bem assim
Cor de chocolate, cor-da-pele: cadê a graça?
Cadê a raça, chocolate não: cor maior, cadê?

A raça se mostra pelo sutiã, disse eu
Ela riu-se e tirou o sutiã: sem bojo
Sem, sem graça: ela espera que eu faça
Cosquinhas na barriga cor de chocolate

Chocolate sem cor, leitoso:
Há de ter traça, sutiã velho, traçado sem graça
Traça e boca: cor de chocolate
sutiã cor-da-pele: chocolate claro, inaçucarado

O sutiã dela não tinha bojo
Perdi meu mojo, ela o dela, sem graça
Sem, sem açúcar: cristal orgânico
Eram os seus olhos assim.

Seus olhos eram de cristal orgânico
Achei graça.

(E saudade...)

2 comentários:

Guilherme Mariano disse...

Achei difícil esse poema seu Le. Gostei do efeito do sem - sem. A repetição da um que de insegurança, ou indecisão. E volta em vc a cristalização da vida, deixa eu explicar, vc pega tópicos polêmicos q muitas vezes são idealizados e vc gosta de cristalizá-lo, tornar comum, mas ao mesmo tempo nao é comum, pq vira poesia.

Fernando Cordeiro disse...

Esse é bastante difícil, me lembrou um pouco os do café e o das camadas do cabelo... acho que é esse uso que é feito da palavra, repetições, inversões, etc...