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terça-feira, 1 de março de 2011

Morcego (ou Do bolor e o seu lugar)

Sobre piano, flores, bilhete,
A poeira no chão destoa
A música aos poucos acende
Lembranças de outra pessoa

Na época em que o jardim era verde
No baile emoções sobrevoam
A dança aos poucos distende,
Os nervos nunca perdoam

Se perniciosamente me permito
Músicas, folhas, bilhetes, pessoas,
A poeira aos poucos me deixa doente
Toda comoção enjoa

Um canto, de repente, deleita
Das mágoas já não sinto gosto
Um beijo bailarino abotoa
A gola sufoca o pescoço

A alegria foge, entre dentes,
A poeira tudo enevoa
Aos poucos num gesto dormente
O morcego se lamenta e ressoa

2 comentários:

Guilherme Mariano disse...

Pior que eu estou começando a fazer análises biográficas de você... mas, ok.

A comparação com o poema de Augusto dos Anjos é inevitável, principalmente nos ultimos versos:

Pego de um pau. Esforços faço. Chego
A tocá-lo. Minh’alma se concentra.
Que ventre produziu tão feio parto?!

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, á noite, ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!

Mas será o seu morcego a consciência? A elaboração do poema entre a tensão da rememoração como saudosismo (positivo) e dor (negativo) é muito bem feita. Gosto do uso das imagens opositivas que vc constrói. Especialmente nos versos:

No baile emoções sobrevoam
A dança aos poucos distende,
Os nervos nunca perdoam

Eu me sinto burro perto de vc fer.

Fernando Cordeiro disse...

cuidado com a biografia (esse texto tem já mais de ano...)