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domingo, 25 de novembro de 2007

sonho que me torno

Te senti durante o sonho
Te sinto agora, o sonho
deixa o rastro de Saudade forte.
Dolorida é a Saudade e seu sorriso
no sonho.
Fico na dúvida: mas sei que gosto de cabelos negros.
Bem negros, bem pretos, preto espelhado...
que reflete o meu olhar dolorido de Saudade
De Paixão intensíssima, em chamas, doloridíssima!
Os seus cabelos cacheados frisam:
frisam o que sinto, frisam o que faço e frisam o que penso.
Ainda mais o que sonho.
Ainda mais o que quero.
Ainda mais o que não quero.
Ainda mais a minha dúvida.
Outro cabelo negro, preto, preto, me encanta.
Esse não frisa: alisa.
Alisa meu sentimento esquisito: torna-o terno.
Alisa minha Paixão pecaminosa: torna-a sacra.
Alisa minha dor que não se explica: explica-a.Torna-a sobre-[humana.
Alisa meu Arrependimento: torna-o Saudade.
O Arrependimento e a Saudade são seres sádicos.
Apesar de que fui eu quem buscou: tornei-os Eu.
Não sei se prefiro o fruto da serpente, frisando, ou se quero a [ternura: aliso-me?
Sei que ambos os cabelos são negros e nenhum tem camadas: [têm unidade,
o que me deixa pior: gosto dos fragmentados.
Mas caso-me com os normais: este é o meu sonho.
Busco ser normal e tranqüila: busco ser lisa. Cabelo negro e liso: [ó, Natureza!
Os frisos me confundem: ó, Demônio.
Não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos da loucura.
Afinal, é por ela que escrevo, é por ela que vivo, é por ela que [duvido.
No fim, fico com ambos: frisos e lisos, ambos são negros, ambos [brilham.
Mas um está aqui chefiando a dor, o Arrependimento, a Saudade [e a tentação libidinosa do adultério.

O outro está na parte de fora: liso, clássico, regrado.
O chefe da dor torna-se longínquo e dolorido. Torna-se [sonho.Torna-me humana.
O outro não: chefia a vida cotidiana: e quem dirá que não é amor?
Esse, terno, torna-se amor. Torna-me amor.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Soneto mal-feito aos meus dois maridos

Eu e meus dois maridos: ficando quieta,
Sempre íamos além: nos amamos:
o marido 1, coitado, era poeta
O 2 também: aí então calamos.

Um dia fiquei sem eles, na certa:
Ambos, claro, desposaram alguém
Um arrumou, raios, uma poeta
E o outro não: antes arrumasse também.

Detesto fofuras: o marido 1 é que gosta
Mal sabe que escrever já é uma bosta
Disse-me ele outro dia: és obsessiva

Gosto de neuroses, gosto de ser exaustiva
Cadê o marido 2? Está ocupado na prosa
Nunca vi falar tanto: Deus o livre da trova!

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Freezer

I

Mecanismo pela conservação
dos sólidos, pensa que coagula
o líquido perene, não em vida,
em morte, imobilizadora e fria.

II

Conservas o frio - desconfiança - que
já não há. Reprimes o calor fugidio que
lacera as prateleiras estanques,
constroi o iglu em pensamento

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Descoberta

Te olhando...

Achei ainda um pouco de você
no seu cabelo repicado: a camada de baixo
é o você que eu queria ser.

Achei ainda um você no pouco
Cabelo da camada de baixo!
do seu cabelo repicado: eu também estou lá...

Achei ainda um pouco de mim
a camada de baixo, ela ainda me guarda
seu cabelo em camadas, corte que dói: dói porque tem memória!

Você me chamou pelo nome num dia de cerveja.

Achei ainda você deliciosa – antes já achava,
mas agora, tão intocável, seu sabor é maior.
E é Ele que te chupa: ainda que eu veja mais fundo na sua sobrancelha grossa.

Selvagem!

Achei ainda você mudada: seu cabelo tem duas camadas
A de baixo sou eu, quando ainda eu.
A de cima é você: quando no agora impossível.

Agora indigesto! Indigesta... Em ti testo meu eu... Sexy.

Achei ainda você Santa – gostosa, charmosa, de boca flexível e vermelha.
O cabelo de baixo é você quando viva.
O de cima é você na pretensão de ser oooutra coisa.

Achei ainda você intelectual
No seu cabelo repicado: mas é burra!
Porque finge e não é: é Espelho.

Achei em você, ainda, o que eu queria ser
falsa, pseudo-sensível, puta, mas misteriosa:
Aquele que te tem também O desejo.

Achei um pouco dele em você...
Só nas finas camadas de cima, no cabelo mais curto.
Achei que quisesse, ainda, deter o gosto d’Ele.

Achei a, ainda, Verdade: no seu cabelo!
Nele, sempre quis ser você, te chupando pra te ter.
Pena. Não dá.

Achei ainda melhor contentar-me com suas sobrancelhas
Expressivas que são, só elas, em você, são de Verdade.
Seu cabelo repicado em pedaços me dói.

Achei que seus fios de cabelo me doessem.
Porque mistura o outrora, lá longe, o ontem e o agora. E meu sonho.
Mas a Verdade é outra: dói é não ser você.

Selvagem!

explanações

Cavando a cova,
Vivo intensamente, em pensamento, a covar.
Esperar minha caveira
remexida na cova,
Porque ser osso é bom!

Ser osso só serve para comprovar
que a carne, em carne viva, vive pra covar. E cavar(-se).
Calada devo ficar, agora, porque odeio dizeres
aqueles trabalhados como ouro na arte poética pobre!!!
Arte é cova: fazê-la é cavar, saiba!

Pego a boneca e brinco os meus cinco anos,
tempos em que cavar a cova era natural...
O medo veio e coube na cova que cavei
Pra mim, pra Ele e pro nada que vim fazer
aqui, nesse mundo corcundo e carcomido.

Cansei-me de metáforas
Enterro o poema, mas revivo a Vaidade.
Por ela, quero ser porca e morbidamente estudada na Universidade (burra)
– que é uma cova –!fosse pela arte minha cova
Eu enterraria é tudo!!!

Cavei e enterrei a mim mesma.
Tenho medo de sonetos, dessas coisas assim,
de professores de arte, dos alunos deles... (você não tem?)
Nós somos os capangas dos doutores
que matam a arte, mas não cavam a cova.

Observações:
1. o poema feito aqui se transforma. Tudo para mostrar que cavar a cova é melhor que fingir. Cova cavada é sempre verdadeira. Uma vez tido o buraco, nenhuma terra estrangeira o tapa ou descava.
2. Tenho medo de tônicas e átonas em seqüências fofinhas, de rimas e essas coisas todas. O medo me comanda e pergunto: pra que tudo isso? Uma vez enterrada a Universidade – nada universal(izante) –, encontro funções – nem devia haver tal necessidade, mas o neoliberalismo econômicoartístico pede. Mas não digo muito não.
3. Função: mostrar a verdade àqueles que não estão contentes. E porque descontentar-se? Pra fingir que se cava, de verdade, a cova. No fim, tudo é dissimulação: e isso deve ser guardado e enterrado. Hein?! Faz de conta que somos.

domingo, 18 de novembro de 2007

Quero-quero

I

Céu límpido, sol implacável,
no campos, das vagas gordas, árvores verdes
bezerros brincando de cabra-cega,
esperança, galinhas, laranjais...
Cerca.

II

A música do vizinho
parte o muro e me acua
as pombas cantam. A rua
exprimida pelos prédios...
Obstrução à vista.

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Sina



I

Assim a escrever sou forçado.
Solitário na sala sentimento
Sussurro o som descompassado
Do meu sonoro batimento.


II

Escrevo o escrito traçado
Nas estrelas, céu pensamento,
Silvo de meu ser antepassado
Preso a Sereia d'amor ciumento.


segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Nublado


I

Há dias em que me perco
Quando tua pura retina,
Que sempre foi meu cerco,
Cega-se em minha neblina.

II

Dia que se molda noite,
Eclipse, cósmica cortina.
Ânfora da luz de açoite.
Neve em nuvem fina.


domingo, 4 de novembro de 2007

Fim.


Mostra-me tua face pálida
Que mata a memória antiga
Presente na vida esquálida,
Enrustida velha cantiga.

Sabe-se. O passado foi
O velho vento que tarda.
O futuro rumina o boi
Pro presente que aguarda.

Não mais se atina
para a pura paródia,
A semente vespertina
Memória doutro dia.


Flerte fluído



I

Numa noite de inverno
Acenou para mim o vento
Vermelho velho interno
Do eterno lamento

II

Acenei eu ao vento
Com pássaros memória
Plomoroso pensamento
Azul ave história


sábado, 3 de novembro de 2007

O amor

I

O amor não é tão somente o amor é o antes, o anuncio do amor, frio e desesperado, sem guarda-chuva sai, as ruas são seu destino. O amor, ah o amor! é a tarde que cai que desliza suave como água na garganta... O amor é miserável e sedento como um cão é em sua desatada janta. Junta os cacos com cimento e as unta com seu pranto, mas não adianta. Não, não é anuncio frio de jornal do dia, é, antes, de ontem, inevitável e desatada sangria... Não há destino cerca, é necessário que se perca o amor que suave como os cacos ciumentos se faz sanguinolento como hinos e não hámais guarda-chuva - como se cobre a lua? - se desliza em intentos... Ah o amor
.
II

O amor não é tão somente o amor é antes o não amor que soa como pressentimento da dor, ou do alento, talvez seja uma bandeja com uma cabeça dentro? Ah sim, falava do amor com tanto fervor que estou ao relento... e olho a lua tão grande como a sua, de suave e sedento...Se os poemas são hinos que clamam os destinos melhor não lê-los e se abusam das rimas, torpes terminam e sempre se percam. Para o amor concreto - de construtores e sem tetos - só faltam as pedras. Essas são minhas! Jogando pedrinhas esqueço as migalhas... Oh pássaros miseráveis, sois cães voráveis! Se me findam a folha das árvores de um dia que cobre a lua e o jornal derruba com cacos sem vidro.

III

O amor não é tão somente o amor é antes um sonho que de agradável e tristonho se faz num lamento. O amor é um hino, em sua percussão há um sino que emite o cheiro da neblina, lisa e fina como um fio de cabelo. O amor é um fio de violão e de camisa que ao toque desliza e surpreende o vento.O amor é uma fragrância da cor da estância onde moram os passarinhos que vivem ao relento e seu ninho de suave e sedento é o pai da ignorância e todos são filhos do vorável destino sem teto, que tranqüilo descansa na garganta da infância de um dia como outro jornal - que melhor fim, afinal? - que o janta em cacos de papel.