o dia estava claro
dum azul retumbante.
Eu olho a estante
e esqueço do trabalho.
Descalço me olho
no espelho descarnado.
A barba penica os dentes,
a fome devora o assoalho,
num risco perdido de gentes
o sol, mais vivo, de repente
tinge de sangue meu terno
no bolso percebo novamente
o gosto dos dias de inverno
sem pressa viro o café
de dias que nem se sente,
mas quando do espelho
foge um palhaço, é certo
mais um dia me desfaço,
imito um projeto doente.
Um comentário:
Gostei da sonoridade deste poema. Estou tentando entendê-lo mais propriamente, mas um questionamento da identidade e da criação parece predominar no final.
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