Te olhando...
Achei ainda um pouco de você
no seu cabelo repicado: a camada de baixo
é o você que eu queria ser.
Achei ainda um você no pouco
Cabelo da camada de baixo!
do seu cabelo repicado: eu também estou lá...
Achei ainda um pouco de mim
a camada de baixo, ela ainda me guarda
seu cabelo em camadas, corte que dói: dói porque tem memória!
Você me chamou pelo nome num dia de cerveja.
Achei ainda você deliciosa – antes já achava,
mas agora, tão intocável, seu sabor é maior.
E é Ele que te chupa: ainda que eu veja mais fundo na sua sobrancelha grossa.
Selvagem!
Achei ainda você mudada: seu cabelo tem duas camadas
A de baixo sou eu, quando ainda eu.
A de cima é você: quando no agora impossível.
Agora indigesto! Indigesta... Em ti testo meu eu... Sexy.
Achei ainda você Santa – gostosa, charmosa, de boca flexível e vermelha.
O cabelo de baixo é você quando viva.
O de cima é você na pretensão de ser oooutra coisa.
Achei ainda você intelectual
No seu cabelo repicado: mas é burra!
Porque finge e não é: é Espelho.
Achei em você, ainda, o que eu queria ser
falsa, pseudo-sensível, puta, mas misteriosa:
Aquele que te tem também O desejo.
Achei um pouco dele em você...
Só nas finas camadas de cima, no cabelo mais curto.
Achei que quisesse, ainda, deter o gosto d’Ele.
Achei a, ainda, Verdade: no seu cabelo!
Nele, sempre quis ser você, te chupando pra te ter.
Pena. Não dá.
Achei ainda melhor contentar-me com suas sobrancelhas
Expressivas que são, só elas, em você, são de Verdade.
Seu cabelo repicado em pedaços me dói.
Achei que seus fios de cabelo me doessem.
Porque mistura o outrora, lá longe, o ontem e o agora. E meu sonho.
Mas a Verdade é outra: dói é não ser você.
Selvagem!
3 comentários:
ainda estou nas camadas superficiais do poema hehehe
será q sou lésbica?
(nao ligue pros meus comentários, to tomando um cabernet aqui... HUAHUAHAUHAU)
Finalmente reli esse poema.
Agora abaixo um monte de bobagem:
Muito legal esse relação camada de cabelo com camadas de uma mesma pessoa, nesse sentido somos todos cobras mudando constantemente de pêle ou de cabelo. E o cabelo é uma imagem muito boa pra mostrar o que é e que não é, as raízes não perdoam ninguém... Mas o que mais me chamou a atenção tem a ver com a questão que vc levantou no seu segundo comentário, mas que eu tinha visto de outra maneira. Mais do que um eu-lírico lésbico eu tinha pensado que há um quê de "canibalismo" que se estabelece pela proximidade entre esse eu e a outra, essa vontade de ser o outro, essa vontade que o outro seja o outro ou que ele seja o que pensamos que ele é. E, ao que parece, esse querer ser o outro (querer ter o que ele tem) só é possível porque o outro é o outro (o que é óbvio hehehe), o "tão intocável".
Chega!! já escrevi muita bobagem e nem tenho a desculpa da bebida (tenho a da insônia, mas não é a mesma coisa)
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