É difícil a escuta, prefiro falar, falar, falar, porque preciso me expressar, porque passei sabe-se lá quanto tempo pedindo pra Deus me mandar pra Terra, então me deixem falar, falar, falar. Já escutei demais, agora quero falar. Preciso falar, porque sou a típica artista insatisfeita com seu contexto, então preciso me expressar, expressar muito, preciso por pra fora toda a ânsia de ser humana. Preciso, preciso muito, não quero, mas preciso, essa ânsia desesperada e ansiosa de querer falar está me tirando do meu famoso centro, coisa que artistas sempre ouvem mas nunca sabem o que é, porque se eles forem ao centro deles vão fazer a arte Divina, e não é isso que os artistas querem, eles querem fazer a arte medíocre típica de um ser feito de um pedaço de carne dura, tensa, embaraçada, envenenada, adoecida.
Preciso falar, falar pra me curar, é a cura na língua que precisa se limpar do veneno de ser compulsiva por ficar presa ao céu da boca e não expressar aquilo que o coração (de)manda. Muito tempo com a língua no céu da boca, grudada, hora de falar, de colocá-la entre os dentes.
Depois, a língua sangrou. Tanto tempo sem falar, que me perdi no movimento e não soube o que era falar. Reivindiquei tanto, mas descobri agora que não sabia bem o que era falar, reivindiquei sem saber, mas o desespero do momento me dominou, porque precisava me expressar. Com a língua mordida, ou cortada por vocês, que, de tão irritados, me deixaram nervosa e me fizeram esquecer a arte do falar, com essa língua massacrada, agora escrevo, escrevo, escrevo. E não digo nada.