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quarta-feira, 17 de outubro de 2007

No asilo

Quando ele chegou, ela estava toda esporrada, lambuzada, lambendo a gosma que havia espirrado nos pulsos.
Ela ria, ria tanto e isso incomodou um pouco. Ele sabia o diagnóstico: insanidade; desequilíbrio mental, ele afirmava por aí. Mas o fato é que ela estava esporrada, molhada, lambuzada toda. E ria. Quem pode ter feito uma crueldade dessa com uma velha que nem normal está? Não obteve resposta nem do enfermeiro nem da polícia nem da esporrada feliz.
Ela não falava, só ria. Ria muito – com algumas pausas para respirar fundo e alimentar o pulmão fraco e podre. Resquícios do tabaco. Ela, sem dúvida, havia sido daquelas mulheres que bebem porra com gosto e vontade, aquelas em que os homens esporravam gritando e tremendo como bichos mais doidos que a velha. Essas mulheres gostam disso. Ela era uma dessas. E ria, ria sem parar.
Não dá pra deixar isso assim! – inconformado ele. Vamos investigar, mas não sei, não sei... – tranqüilos os caras de quepe.
Ela continuava a rir e ninguém – nem ele – prontificou-se a limpar a porra da barriga dela. Já estava secando e ela almejava ficar melada e pelada ali e, nesse caso, nem ele se atinou em cobrir a nudez dela. Seu sexo era enrugado, velhinho. Mas mais molhado e melado que o de muita gente. Mãe, pelo amor de Deus, pára de rir!
Ela obedeceu, virou-se e dormiu – nua e melada. Para não mais acordar.

Um comentário:

Fernando Cordeiro disse...

Oi Lê, primeiramente, como orientando da Sônia, não poderia deixar de notar o interessante trabalho com o narrador (hehehehe). No mais, meu moralismo ainda não me permitiu desfrutá-lo de maneira integral... creio que me sinto quase como o rapaz que chega... (acho que essa é uma força a mais desse texto).